sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Mulheres



Há já uns bons dias fiz um "programinha", felizmente já tornado rito, que é uma festa do pijama com as minhas amigas, mas sem ser numa casa, sem maldizermos os homens e sem pijama.(O segundo ponto lá acabou por acontecer uma ou duas vezes, vá). Portanto, uma ida ao cinema; só nós, as meninas.
Para celebrarmos a nossa condição feminina, resolvemos ir ver o Mulheres, "The Women", com argumento e realização de uma também mulher Diane English, e baseado na peça de teatro de 1936 de Clare Boothe Luce e no filme de 1939 de George Cukor, com o mesmo nome.
Armadas de pipocas e ice-tea, que a coca-cola faz celulite, sentimo-nos prontas para os risos, os acenos de cabeça a concordar (se for na horizontal, a discordar)e até para as reacções indignadas, de quem quase quer mudar o rumo do filme, de uma das minhas amigas (é sempre assim).
E posso dizer que tive uma agradável surpresa.
À partida, as comparações com "O Sexo e a Cidade" são inevitáveis, e mesmo nos primeiros minutos de filme parecemos não conseguir desfazer o decalque mental que construimos, e parecemos atentar mais nas semelhanças. Mas rapidamente se descobrem as diferenças.
O núcleo de personagens é, de facto, constituído por quatro amigas, mas todas elas com histórias de vida diferentes de Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda. A intenção da autora é outra, a moral da história também. "O Sexo e a Cidade" é realizado por um homem, e talvez esse aspecto contribua mais para a diferença do que pensamos (embora a sensibilidade seja igualmente uma marca, sem dúvida).
O factor glamour também não é tão visível, ou pelo menos não pretende ser uma personagem do filme, como em "Sex and the City". Neste último também a cidade(Nova Iorque) é uma personagem. Em "The Women",só mesmo o jardim das traseiras da casa de Mary, onde esta planta flores.
Pouco do filme gravita à volta dos homens, ainda que se parta deles, e apenas para uma das personagens. As outras têm mais que fazer.
Um toque de originalidade nesta obra de Hollywood: nem um homem aparece em cena, e as referências a estes são bastante inteligentes. Se em "Sexo e a Cidade" eles são ponto de partida e de chegada, em "Mulheres" são apenas um pretexto para contar uma história.
A história é divertida, proporcionam-se situações cómicas, mas também momentos que nos fazem pensar. Aborda-se o amor, mas tambem a carreira, a maternidade, a lealdade, a amizade posta à prova. E até a orientação sexual é abordada de forma engraçada sem ser ridícula, com naturalidade e sem moralismos, sendo apenas uma característica como a cor dos olhos e o tamanho do cabelo (e quase física,em expressão) da personagem de Jada Pinkett Smith (uma mulher com mais atitude que muitos homens, mas tão mulher quanto as outras, e mesmo "mulherzinha" em momentos-chave).
As actuações são previsivelmente boas e convincentes; uma Annette Bening madura e charmosa, confrontada com os dilemas da idade e da carreira, uma Meg Ryan como peixe na água do laguinho das comédias românticas, uma Eva Mendes confortável no papel de femme fatale maliciosa (maliciosa sou eu agora, ao dizer que não me surpreende...inveja a quanto obrigas, ah ah) e uma Debra "Messy" (really), fiel ao seu papel de trapalhona, tal qual Grace em versão naive. Adorável, com sempre. (Confesso que ia com muita expectativa em relação a esta actriz, e levava no coração o meu carinho pela companheira de Will...)
Por tudo isto, e depois de um final, apesar de tudo realista, prudente e sem deslumbramentos (como muitas vezes a vida e as relações são), levamos da sala um sorriso na cara, e um ou dois pensamentos para trazer para casa. Dei por mim a confirmar novamente que até no outro lado do oceano os conselhos das amigas são os mesmos, partilhamos sentimentos, atitudes e reacções, tanto em comum. Uma mulher é sempre uma mulher, aqui ou em qualquer outra cultura. E senti-me como que acarinhada, confortada. Mais alguém me "entendia", noutro ponto do globo, mais alguém tinha dúvidas tão pertinentes e atitudes tão burras quanto as minhas, em alguma fase da vida.(Frase BRAVO) E sei que nós,meninas, saímos dali orgulhosas em sermos mulheres. Nós, e os outros 90% de mulheres que perfaziam a sala...mas os homens presentes riam e mostravam-se interessados. Eu estive lá e vi!

1 comentário: